sexta-feira, 9 de maio de 2014

De volta...



Depois de uma parada estratégica, o Devaneios da Duarte está de volta. Muitos são os assuntos, muitas são as novidades. O que não mudou foi a vontade de escrever, esta continua viva, intacta.

A foto acima é de um belo domingo no parque, às margens do Rio Guaíba.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Lá fora...

Tudo acontece rapidamente. Num piscar de olhos ela se transporta para o espaço privado, onde tudo o que precisa fazer é não fazer nada. Fechada no seu próprio interior observa a vida transcorrendo lá fora. Não quer sair, precisa ficar ali, quietinha como o caracol na concha.

O que sente? Alegria, êxtase, delírio, compaixão. É feliz assim. Não precisa de água ou comida. Tem a capacidade de viver meses, anos, décadas, em lugares tórridos ou gelados, sob o sol e a chuva. Apenas um fato pode tirá-la daquele sossego, a vida lá fora. O ponto de referência é uma fissura na parede, junto ao rodapé. Fica horas naquele lugar observando o outro lado, um espaço tão desafiador quanto sedutor.

Possui um GPS natural fazendo com que nunca se perca. A única perda, nesse caso, é da sensatez. O que diria Samsa diante de tanta precaução? Ela sabe o que a espera. Só não consegue prever o dia em que será esmagada como todas as outras baratas da casa.


terça-feira, 10 de abril de 2012

A mala vermelha

O tempo é fragmentado. A vida dividida em minúsculas partes agrupadas como um quebra-cabeça. Depois de montado, peça por peça, esse quebra-cabeça revela a imagem construída ao longo dos anos. A minha vida girou em torno de uma família pequena, erguida com muito amor. Viúva cedo demais, criei, eduquei e amei demais você. Agora o que eu mais temia estava para acontecer.

Não há muito para levar. Na mala roupas, livros, fotos, discos, lembranças. Na casa, cada canto uma memória, organizada como em arquivos. Do sofá de couro marrom, gasto nos braços, até a estante de livros, vi os seus primeiros passos. Sentado na cama sobre a colcha azul a primeira palavra – papato – lembra o meu hábito de calçar sapatos fechados naquele verão chuvoso. Na parede branca da sala, quase na porta da rua, registrei a foto do seu primeiro dia de aula na 1ª série. Foram anos de boas memórias, só nós dois, mãe e filho. Ainda lembro das leituras antes de dormir – contos de fadas com finais felizes; o cd do Legião Urbana que lhe dei aos 9 anos; as conversas sobre meninas e as dúvidas sobre sexo; as nossas brigas e os abraços logo depois; as noites em claro esperando você chegar; a faculdade e agora a mala pronta.

O tempo se dilui, escorre como as minhas lágrimas ao ver esse objeto tão simples e amedrontador – a mala vermelha. Ficava ali, em cima do guarda-roupas, me observando sempre que uma nova crise me abatia. Da cama, olhava para cima e só conseguia ver uma pequena parte sempre cheia de pó. Na alça desenhos se formavam em fios quase transparentes. Desenhos que de tempos em tempos mudavam de acordo com a necessidade de sua criadora. Agora o pó e as teias de aranha foram limpos. A imagem do meu quebra-cabeça estava ali, mais uma vez me olhando, agora cheia, pesada.

Estou indo para o lugar que você escolheu, aquele aonde irão cuidar de mim. No bolso interno do meu casaco, bem junto ao coração, levo o mapa da nossa casa. Assim, quando chegar a hora, poderei encontrar o caminho de volta para morrer nos seus braços.



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Por trás da cortina



Por trás da cortina eu vejo, sinto, pressinto.

 


 O agora já não é mais presente, é passado.
 

Atrás da Estante



Verão em Porto Alegre, poucas opções para aplacar o calor a não ser o templo refrigerado que se vislumbra ao longo da planície tórrida: o shopping center. O que me interessa nesse verdadeiro oásis são as livrarias, atualmente convertidas em comércios eletrônicos para não fecharem as portas. TVs de última geração, aparelhos de celular, Ipad, Ipod, games, cd’s, dvd’s, miniaturas colecionáveis, camisetas e tantos outros objetos dos sonhos... nada me seduz tanto do que a versão masculina de um harém, os livros.

São infinitas obras de conhecimentos, cultura e prazer para qualquer amante da leitura. Uma tentação. Mas o que é uma tentação quando se está determinado a não comprar nada? Comichões que afloram no corpo, começando nos pés, terminando no lóbulo da orelha e transformados em suspiros a cada obra folheada, cheirada, manuseada.  Não é um não querer comprar, mas sim um não poder. Minha estante está cheia de livros ainda não lidos, comprados a todo o momento e se eu fosse levar todos os que vejo, toco e desejo, contrairia dívidas eternas. Nem todo o tempo e dinheiro do mundo seriam suficientes para aplacar a vontade de possuir obras desejadas. Não lembro quem disse, mas sempre repito “tantos livros para tão pouca vida”.

Assim como muitas pessoas leio vários ao mesmo tempo. Nada de mais para quem entende essa prática. Um livro pequeno (de tamanho) na bolsa para as horas em que é preciso ficar parada, esperando nas filas de bancos, consultórios médicos e outros lugares. Outras obras para ler antes de dormir, nesse caso umas duas ou três. Até no banheiro é preciso ter um objeto de leitura.

Mas diante de tanta ânsia fico intrigada e comparo as pessoas que leem muito com as que não leem nada ou pouco. O que representa essa diferença? Muitas vezes acredito no aprimoramento pessoal e profissional. Porém, quando vejo o grupo dos que não abrem um livro por ano se dando bem, guardo minha crença atrás da estante, naquele espaço empoeirado, onde a vassoura não chega.





quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Guardados


Remexendo em meus arquivos encontrei a pasta "oficina Galvani" com algumas crônicas que escrevi em 2005 quando realizei o Curso de Extensão da Uergs "Crônica, o voo da Gaivota" ministrado pelo querido Walter Galvani. Publico aqui o texto no original, poderia fazer algumas modificações, porque depois de sete anos creio que escrevo um pouco melhor, mas não mudei nada.


Persona



O brasileiro se diz e se acha cordial. Tá certo, ele tem todo o direito já que trata bem os turistas e é visto como um povo alegre e gentil devido ao samba e futebol. Reuniões de negócio com estrangeiros sempre acabam num restaurante ou boate badalada. Quem vê de fora jura que somos cordiais, amigos e sinceros. Não é assim? Porém por trás dessa amabilidade toda está escondido um mar de interesses.

Não se apressem em me taxar de pessimista ou de descrente da bondade humana. Apenas analiso friamente a situação. Qual o motivo para os turistas e homens de negócio serem tão bem tratados, quase carregados no colo? Os turistas representam uma boa parte  do dinheiro que circula no território nacional. E o que seria do Brasil sem os investimentos estrangeiros? A cada dólar que entra é um sorriso em retribuição. É a cordialidade servindo como alavanca para um país de desempregados e analfabetos.   

Agora vamos sair do campo financeiro e adentrar nas relações pessoais. Porque um homem quando conhece uma mulher é  tão afável? Ele abre a porta do carro, do restaurante, puxa a cadeira, fala por favor, desculpe e obrigado, e o mais incrível: sabe escutar (pelo menos disfarça muito bem). Pode passar horas ouvindo de sua  "presa" os conflitos femininos e como os homens são insensíveis nesse ponto. E o pior de tudo é que ele ainda vai concordar com ela. Nesse caso a cordialidade também oculta interesses, é o brasileiro agindo em proveito próprio. A mulher igualmente torna-se cordial quando está as voltas de sua "caça" e mantém o clima agradável até conseguir o que quer. Não reclama de nada, aceita e acata conselhos e opiniões, está sempre com um sorriso no rosto, até mesmo quando tem vontade de vomitar. Ri das piadas sem graça e nunca, mas nunca dá ordens. Quando está segura de que conquistou seu objeto de desejo a máscara cai e revela a sua verdadeira face.  



Percebo que o negócio é genético quando essa cordialidade toda começa a vir dos filhos desde pequenos. Duvidam? Bom, imagine então um menino de três, quatro anos fazendo todo tipo de travessuras. Desde  riscar com canetinhas coloridas o sofá novo de sua mãe até enlouquecê-la com shows, ao ar livre, de ataques e faniquitos regados a insultos, gritos e choro ensurdecedor. Ora, diriam os psicólogos de plantão, isso é normal para a idade. Muito bem. Alguém sabe o que acontece quando esse "modelo de educação" quer alguma coisa de sua mamãe? Algo muito importante para ele, como ver seu desenho favorito na cama dela, ir ao parque, comer bala de goma, dar uma passadinha na locadora e o melhor de tudo, não tomar banho. Aí ele encarna o "modelo da cordialidade infantil". Juras de comportamento são feitas, quarto arrumado em segundos, frases do tipo "tu é bonita, mãe" e minutos incontáveis de beijos, abraços e carinhos. Aprendemos desde cedo a usar a cordialidade por algum interesse. A família mais gentil do mundo sem sombra de dúvida é a nossa.

Eu só não vejo essa cordialidade toda com os moradores de rua, com as crianças carentes, com os doentes na fila do sus, com os índios e negros. Se questionem nesse aspecto. Porque viro o rosto ou atravesso a rua para não vê-los? Porque não lhes abro um sorriso e os cumprimento? Porque se tornaram invisíveis? Alguma doença contagiosa? Não, não e não. A resposta está explicita: não somos cordiais, agora, porque não temos interesse, não vemos nenhuma vantagem nisso.


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cobertura de papel

Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo... segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo... segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo. Janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro... Janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro... janeiro, fevereiro, março abril, maio, junho... um zunido. Morava na cobertura.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Jornalistas blogueiros



Em 2006, quando eu ainda era estudante de jornalismo, entrevistei Clóvis Rossi, repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo. Ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano, Rossi é muito conhecido nas faculdades de jornalismo. Mas não pela coluna que escreve às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo" do jornal, e sim pelo livro O Que é Jornalismo, base para todo estudante da área. A entrevista foi realizada por e-mail, depois de contato por telefone. A resposta não chegava nunca e, diante de muita insistência, o jornalista atendeu o meu pedido. Fiquei frustrada, pois esperava mais, muito mais do que as respostas lacônicas que recebi. Uma delas, por sinal a melhor, é interessante para os jornalistas blogueiros sobre a explosão, na época, dos blogs de jornalismo:

“Os blogs me dão a sensação de ser como as velhas de antigamente, que ficavam na janela vendo o mundo passar e fazendo fofocas a respeito das pessoas e fatos que viam passar. Ou seja, tem mais fofoca que fato, e tem uma visão curta da realidade, limitada até onde alcança a vista do blogueiro. Nada contra. Especialmente os blogs feitos por profissionais do jornalismo com traquejo e passagem por outras mídias. Mas, no geral, os blogs têm provocado mais calor que luz.”

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Eco


No dia 5 de janeiro Umberto Eco fez 80 anos. Lúcido, pronto para escrever muito mais. Porém, tenho um problema com ele. Toda vez que revejo “O Nome da Rosa” me dá uma dor no coração. Todo aquele conhecimento sendo consumido pelo fogo é algo assustador. E ainda, sempre que assisto, em outro filme, livros sendo queimados, lembro da obra de Eco. É batata, uma imagem se relaciona com a outra, com o livro e assim minha mente dá voltas. Nosso cérebro é fantástico. E o dele mais ainda.       

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Mais um Delírio




Não tenho sono nem dono,
não sinto a dor, não vejo a flor.

Vou mergulhar fundo,
até não respirar
e só vou acordar
quando a tua mão encontrar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Não pense

Está aberto o festival do besteirol. Nessa época de final de ano o que mais se vê/lê/assiste são notícias relacionadas a celebridades e sub celebridades. E não estou falando de notícias sobre o que essas pessoas estão fazendo para ajudar o coletivo, mas sim quem namora quem, quem levou o pé, qual a gostosa da moda, que tipo de roupa fulana vai usar nas festas e por aí vai. O que é realmente importante saber, fica escondido numa caixinha até o final das férias de verão. A partir de agora ninguém mais quer saber sobre o custo de vida, corrupção, violência, mazelas do mundo e tudo o que possa representar problemas que se transformem em rugas. Ninguém quer ver/ler/assistir nada disso.

O Natal está aí, depois o Ano Novo e enfim as férias. Claro, logo depois o Carnaval. Vamos todos jogar fora as máscaras que nos aprisionaram o ano inteiro e aproveitar a liberdade de não pensar/fazer nada até março quando tudo volta ao normal e um novo disfarce precisa ser escolhido. É possível até usar a máscara de palhaço usada no carnaval.  


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O chapéu

Sentado, dedo em riste, o velho tropeiro discute com a Morte. Ela veio buscá-lo, mas ele crê que ainda não é sua hora. Chove fininho e o ar começa a ficar gélido. Lelé, abanando o rabo, percebe a presença daquela que assombra os sonhos de seu protetor. Soberana, de manto negro e foice em punho, espera calada. Já conhece todas as artimanhas dos vivos e sabe que ninguém consegue enganá-la. Irritado com a indiferença, o velho Amaral levanta, dá dois passos e cai. A mão enrugada tenta um último movimento: alcançar o chápeu caído a sua frente. Porém, acaba ali o derradeiro sopro de vida. Seu companheiro uiva, abocanha o chapéu e sai correndo.

Ainda confuso, o pequeno Amaral senta na cama e suspira:
- Ah Lelé, que bom, foi só um pesadelo. Que foi? Você tá triste?
O cachorro apenas lhe entrega o velho chapéu.  


terça-feira, 29 de novembro de 2011

À Espera


De tempos em tempos era assim. Quando a chuva caia, se entregava às gotas refrescantes e sedutoras. Até a alma, Marina sentia-se purificada e abençoada. Depois continuava o ritual. Envolta em véus, descia lentamente as escadas até alcançar o penúltimo degrau para acordar horas mais tarde sem saber o que havia acontecido.

Aquilo tudo não entendia, mas também não contestava. Aprendera com o tempo... seguia os dias esperando a próxima chuva.



domingo, 13 de novembro de 2011

O jogo


— Par.
— Ímpar.
— Par, ahá, ganhei.
— Droga, tu sempre ganha.
— Sempre não, na segunda tu ganhou.
— E agora o que vou fazer? Hoje só tem isso.
— Tá vendo? Na segunda tinha dois... e dá pra fazer um monte de coisa com a tua parte.
— Não dá, a tua é melhor. Vamô trocá?
— Não senhora, jogo é jogo. Eu também quero o que ganhei, já tô até imaginando o que vou fazer, huummm!!
— Só hoje, não peço nunca mais, juro.
— Não. E não adianta fazer essa cara de choro. Só porque é menor que eu acha que sempre pode ficar com a melhor parte. Jogo é jogo, tu tem que entender. Ainda bem que hoje ganhamos esse ovo. Ah, que coisa. Tá bom. Fica com a clara que eu fico com a gema.  


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

domingo, 10 de abril de 2011

A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre

Cheguei a triste conclusão: as escolas particulares, e isso incluem as escolas infantis, não querem e não gostam de levar os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre. Meu filho, hoje na 4ª série do Ensino Fundamental nunca, afirmo categoricamente, nunca foi com nenhuma instituição de ensino, visitar a Feira do Livro.Justificativa eles tem de sobra, todas infundadas. As escolas privadas, isso inclui professores, quadro pedagógico e supervisão, não querem ter o trabalho de cuidar das crianças no evento. Não querem sair da sua zona de conforto. Essa era a minha opinião até o início do ano letivo.

No primeiro contato com a nova professora do meu filho, na reunião com os pais, fiz a pergunta: “as crianças vão à Feira do Livro?”. A resposta foi o tradicional não. Insisti, afinal sempre questiono os motivos dessa resistência. Então, a conversa, quase num tom de discussão, ficou na fronteira entre o real e o insano.

- A Feira é muito perigosa, - disse a professora.
- Como assim? – pergunto
- É muita gente, são muitas crianças para cuidar.
- Sim, mas a Área Infantil tem agendamento para as escolas na parte da manhã, – insisto.
- Não é nosso horário de aula e é perigoso também porque fica na beira do rio.
- Mas nesse caso poderia ser uma exceção e o espaço é todo gradeado. Ou até mesmo na parte da tarde, o local é bem seguro. Depois as crianças podem trabalhar o livro de um autor e ir assisti-lo, pegar autógrafo...  
- A escola não tem interesse, já temos um projeto parecido. Depois, eles vão querer comprar livros.
- Claro que eles vão comprar livros, esse é o objetivo!! Mas também podem assistir as atrações culturais.
- As apresentações são de baixa qualidade, os alunos não vão aproveitar. E nesse tipo de evento, sabe como é, misturam alunos de tudo quanto é escola, isso não é legal para eles.
Diante das respostas da professora de 4ª série de escola particular, não me restou mais argumento, porque o próximo passo nos levaria à diretoria.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque a Feira é muito perigosa, uma criança pode ser esmagada na multidão, ou pior, cair no rio. Isso significa que nenhuma outra escola leva suas crianças lá. Pais preocupadíssimos deixam os filhos em casa com medo da fúria dos leitores ávidos pelas novidades literárias.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque, imagina, eles vão querer comprar livros!! Onde já se viu? Deveria ser proibida a venda de livros para crianças.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque as apresentações não tem qualidade. Claro, a professora é especialista em arte formada em Harvard e os projetos culturais da escola sempre vão além da Festa Junina e das outras datas comemorativas.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque na Feira vão crianças de tudo quanto é escola. Obviamente os alunos do colégio particular que o meu filho frequenta, não podem se misturar com os alunos das escolas municipais ou estaduais. Meu Deus, e se eles ficarem no mesmo espaço de crianças de uma escola de vila? Sentados lado a lado, maravilhados com o teatro, com a contação de histórias, com os personagens do livro recém comprado? A professora só poderia identificar o meu filho pelo uniforme. E isso deve apavorá-la.
E assim, a escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre.

O ponto da resistência

Ela tentava explicar a todo custo o pavor pela coisa, a distância do tempo e a incongruência dos fatos, mas ele não se dava por satisfeito. Nem mesmo o falso argumento de algum trauma provocado na infância era suficiente para desfazer a ideia fixa de Renato. Ele queria e ponto. Era assim desde pequeno, ela sabia.
Marisa, apreensiva com a situação, gesticulava como se a energia gerada naquele pequeno espaço entre as duas mãos pudesse transportá-la para um mundo paralelo. Ele continuava ali, imóvel, impassível. Ela gesticulando cada vez menos, rogava forças para resistir.
Resistiu, resistiu... resistiu. Renato queria e ponto.   

sexta-feira, 8 de abril de 2011

El mistério de la lectura


"El amor por la lectura es algo que se aprende pero no se enseña. De la misma forma que nadie puede obligarnos a enamorarnos, nadie puede obligarnos a amar un libro. Son cosas que ocurren por razones misteriosas, pero de lo que sí estoy convencido es que a cada uno de nosotros hay un libro que nos espera. En algún lugar de la biblioteca hay una página que ha sido escrita para nosotros".
Alberto Manguel

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Leitor de Borges


Os livros despertam a imaginação... você não está cansado de ler isto? Eu já li essa frase milhares de vezes e entendi o recado na primeira. Mas parece que muitos ainda não. Ela é simples, quer dizer o que está dizendo.

A leitura é uma das poucas coisas que podemos fazer sozinhos sem estarmos sós. São personagens que nos acompanham, nos fazem rir e chorar. Cenários que não saem da nossa cabeça. Mas nos sentimos assim apenas diante de um bom livro. E são esses bons livros que ficam marcados na memória.

Para quem gosta de ler e tem sede de conhecimento indico “Uma História da Leitura”, de Alberto Manguel. A obra de 400 páginas (se você é leitor mesmo não vai se assustar) é uma verdadeira enciclopédia sobre leitores, leituras e livros. É um passeio sobre como surgiu a escrita, os primeiros leitores, a leitura silenciosa (antes era apenas em voz alta), as formas de livros, o roubo de livros, os copistas, as leituras proibidas, a Bíblia de Gutenberg e muito mais.

Li este livro há 6 anos. Não conhecia o autor, mas ele acabou me conquistando. Manguel é argentino naturalizado canadense. Não é conhecido do grande público porque a maioria de seus livros são ensaios. Quando o indico para alguém a maior referência sobre ele é esta: Manguel foi um “leitor” de Borges. Essa experiência também está em “Uma História da Leitura”. Não preciso dizer mais nada.    

Ah... ia esquecendo. Ele lançou um romance em 2010, “Todos os homens são mentirosos” e estará na Jornada Literária de Passo Fundo, em agosto.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Pecado - A Inveja


Dante Alighieri, em A Divina Comédia, coloca a Inveja como um pecado não tão pecaminoso assim. Dividida em três partes, Inferno, Purgatório e Paraíso, a obra de Dante traz os 7 Pecados Capitais dispersos entre o Inferno e o Purgatório. A Inveja, não está nos círculos do Inferno, onde ficam os piores pecados como a Ira e a Luxúria.

O Purgatório é o lugar reservado para as almas dos invejosos. Estes, durante a passagem pela vida terrena, cobiçaram um lenço, um marido, uma posição social ou até mesmo um simples caminhar. Nada escapava a inveja das almas que agora tentavam purgar suas culpas. Invejar, invejar e invejar! Nada mais importava, nada mais lhes dava tanto prazer na vida.

Castigo para os pecadores? Sim. Dante escreveu que a punição para as almas dos invejosos era nada mais ver. Pálpebras costuradas nos olhos por fios de metal. Como invejar agora se toda a consumação desse pecado vem da visão? E você, qual a sua inveja?