domingo, 10 de abril de 2011

A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre

Cheguei a triste conclusão: as escolas particulares, e isso incluem as escolas infantis, não querem e não gostam de levar os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre. Meu filho, hoje na 4ª série do Ensino Fundamental nunca, afirmo categoricamente, nunca foi com nenhuma instituição de ensino, visitar a Feira do Livro.Justificativa eles tem de sobra, todas infundadas. As escolas privadas, isso inclui professores, quadro pedagógico e supervisão, não querem ter o trabalho de cuidar das crianças no evento. Não querem sair da sua zona de conforto. Essa era a minha opinião até o início do ano letivo.

No primeiro contato com a nova professora do meu filho, na reunião com os pais, fiz a pergunta: “as crianças vão à Feira do Livro?”. A resposta foi o tradicional não. Insisti, afinal sempre questiono os motivos dessa resistência. Então, a conversa, quase num tom de discussão, ficou na fronteira entre o real e o insano.

- A Feira é muito perigosa, - disse a professora.
- Como assim? – pergunto
- É muita gente, são muitas crianças para cuidar.
- Sim, mas a Área Infantil tem agendamento para as escolas na parte da manhã, – insisto.
- Não é nosso horário de aula e é perigoso também porque fica na beira do rio.
- Mas nesse caso poderia ser uma exceção e o espaço é todo gradeado. Ou até mesmo na parte da tarde, o local é bem seguro. Depois as crianças podem trabalhar o livro de um autor e ir assisti-lo, pegar autógrafo...  
- A escola não tem interesse, já temos um projeto parecido. Depois, eles vão querer comprar livros.
- Claro que eles vão comprar livros, esse é o objetivo!! Mas também podem assistir as atrações culturais.
- As apresentações são de baixa qualidade, os alunos não vão aproveitar. E nesse tipo de evento, sabe como é, misturam alunos de tudo quanto é escola, isso não é legal para eles.
Diante das respostas da professora de 4ª série de escola particular, não me restou mais argumento, porque o próximo passo nos levaria à diretoria.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque a Feira é muito perigosa, uma criança pode ser esmagada na multidão, ou pior, cair no rio. Isso significa que nenhuma outra escola leva suas crianças lá. Pais preocupadíssimos deixam os filhos em casa com medo da fúria dos leitores ávidos pelas novidades literárias.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque, imagina, eles vão querer comprar livros!! Onde já se viu? Deveria ser proibida a venda de livros para crianças.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque as apresentações não tem qualidade. Claro, a professora é especialista em arte formada em Harvard e os projetos culturais da escola sempre vão além da Festa Junina e das outras datas comemorativas.
A escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre porque na Feira vão crianças de tudo quanto é escola. Obviamente os alunos do colégio particular que o meu filho frequenta, não podem se misturar com os alunos das escolas municipais ou estaduais. Meu Deus, e se eles ficarem no mesmo espaço de crianças de uma escola de vila? Sentados lado a lado, maravilhados com o teatro, com a contação de histórias, com os personagens do livro recém comprado? A professora só poderia identificar o meu filho pelo uniforme. E isso deve apavorá-la.
E assim, a escola do meu filho não leva os alunos à Feira do Livro de Porto Alegre.

O ponto da resistência

Ela tentava explicar a todo custo o pavor pela coisa, a distância do tempo e a incongruência dos fatos, mas ele não se dava por satisfeito. Nem mesmo o falso argumento de algum trauma provocado na infância era suficiente para desfazer a ideia fixa de Renato. Ele queria e ponto. Era assim desde pequeno, ela sabia.
Marisa, apreensiva com a situação, gesticulava como se a energia gerada naquele pequeno espaço entre as duas mãos pudesse transportá-la para um mundo paralelo. Ele continuava ali, imóvel, impassível. Ela gesticulando cada vez menos, rogava forças para resistir.
Resistiu, resistiu... resistiu. Renato queria e ponto.   

sexta-feira, 8 de abril de 2011

El mistério de la lectura


"El amor por la lectura es algo que se aprende pero no se enseña. De la misma forma que nadie puede obligarnos a enamorarnos, nadie puede obligarnos a amar un libro. Son cosas que ocurren por razones misteriosas, pero de lo que sí estoy convencido es que a cada uno de nosotros hay un libro que nos espera. En algún lugar de la biblioteca hay una página que ha sido escrita para nosotros".
Alberto Manguel