segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O chapéu

Sentado, dedo em riste, o velho tropeiro discute com a Morte. Ela veio buscá-lo, mas ele crê que ainda não é sua hora. Chove fininho e o ar começa a ficar gélido. Lelé, abanando o rabo, percebe a presença daquela que assombra os sonhos de seu protetor. Soberana, de manto negro e foice em punho, espera calada. Já conhece todas as artimanhas dos vivos e sabe que ninguém consegue enganá-la. Irritado com a indiferença, o velho Amaral levanta, dá dois passos e cai. A mão enrugada tenta um último movimento: alcançar o chápeu caído a sua frente. Porém, acaba ali o derradeiro sopro de vida. Seu companheiro uiva, abocanha o chapéu e sai correndo.

Ainda confuso, o pequeno Amaral senta na cama e suspira:
- Ah Lelé, que bom, foi só um pesadelo. Que foi? Você tá triste?
O cachorro apenas lhe entrega o velho chapéu.  


Nenhum comentário:

Postar um comentário