Tudo acontece rapidamente. Num piscar de olhos ela se transporta para o espaço privado, onde tudo o que precisa fazer é não fazer nada. Fechada no seu próprio interior observa a vida transcorrendo lá fora. Não quer sair, precisa ficar ali, quietinha como o caracol na concha.
O que sente? Alegria, êxtase, delírio, compaixão. É feliz assim. Não precisa de água ou comida. Tem a capacidade de viver meses, anos, décadas, em lugares tórridos ou gelados, sob o sol e a chuva. Apenas um fato pode tirá-la daquele sossego, a vida lá fora. O ponto de referência é uma fissura na parede, junto ao rodapé. Fica horas naquele lugar observando o outro lado, um espaço tão desafiador quanto sedutor.
Possui um GPS natural fazendo com que nunca se perca. A única perda, nesse caso, é da sensatez. O que diria Samsa diante de tanta precaução? Ela sabe o que a espera. Só não consegue prever o dia em que será esmagada como todas as outras baratas da casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário